quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Icing on the cake

Eu estou acorrentado
estou aprendendo
na marra
o que é sofrer, doer e sangrar
simultaneamente.

Estou adquirindo o dom da queda
o talento inato para foder com as situações mais simples
ser a primeira chama que se apaga
e a única também.

Entendi o que é ser solidão
o que é viver por conta própria
mesmo com sete bilhões de pessoas em volta
o que é ser o brinquedo empoeirado no fundo do baú
o violão mofando na num canto de uma casa
que nada que acontece conosco é culpa nossa
a não ser que seja uma besteira
ou que simplesmente não seja algo bom.

Vi que as flores não sabem de nada
e que nós jamais entenderemos isso
entendi o sentido da minha vida
apenas para ele mudar na semana seguinte
encontrei o pingente
e o cordão pulou ralo abaixo.

Ouvi que é tudo uma questão de tempo
a não ser quando não é
e é só por isso que a vida segue
(foi o que entendi).

Percebi que é possível sentir algo por muitos
sem conhecer nenhum
que as amizades eternas são as que duram menos
que no silêncio da noite
só posso contar com o frango de balde
e com o silêncio das tecnologias
que me entretêm.

Experimentei o gosto do álcool
inspirei, enfim, a fumaça viajante do tabaco
fiz da vida um carnaval
fiz dos sonhos um lembrete de geladeira
e d'Ela eu nem fiz questão:
acostumei.

Não li o que queria, nem vi o que podia
não dormi o que vinha, nem comi o que tinha
estourei as espinhas, mas elas ficaram
chorei, mas as lágrimas não vieram
apaixonei, mas ela virou pro outro lado
morri, mas não tenho cova.

Foram só 365 dias,
mas pareceu uma eternidade infernal.
Este ano foi a surra que eu jamais tomei.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Desespelho

E houve então o cheiro da tua pele
teu calor, as cores
o seu castanho
a minha voz foi incapaz
a minha tez foi tenaz
meu coração admirava, voraz
nada se comparava
ao fato de descansar os ouvidos
em tu.
Sua pele que puxava a minha
era o sorriso que me prometia
as bonanças
de amanhã à tarde
na enseada
seu desejo de ser feliz
de se libertar do comum
de ser o além
o aliás
o abajur aceso na mansão enegrecida
e eu, fascinado, atordoado, estupefato
deixava a vista livre a vagar
sobre os seus dias,
as horas
seus instantes
o suspiro antes do selo.
Caminhar a sós contigo
ver suas pernas peladas pedalarem
seu umbigo
sua voz molhada e fresca
a me dizer o céu
a me ensinar as cores
me indicar o lado
o caminho
a direção
a ser as linhas da minha própria estrada
a ser o choro da minha própria angústia
a ser mais do que dois
ser eu
para vivermos nós.
O sol se intrometia sempre
mas era o som dos violinos,
a voz doce e absoluta que eu ouvia
a face tranquila e serena que eu observava
sempre,
que eu via formar no céu a constelação das três Marias
assim que o seu rosto refletia
e eu soube que a nossa vocação era perfurar os céus
em busca de mais luz
de mais tempo
e incertezas
pra que tudo permanecesse aflorando sempre
e sempre
até não mais haver voz que sentenciasse a sua eternidade.
As canções se silenciaram
e o seu rosto já não mais o seu
a ponto de ser irreconhecível
em suma
a cor o aroma o sorriso
seu hálito
e eu me assentei
e a verve se foi, perceptível.
Seu rosto se fechou
indelével, resignado, incorruptível
não havia piada
não havia assunto
nem ninguém que te curasse
nem eu, meu amor.
O café se esfriou,
e eu deixei a xícara se espatifar
bem no meu pé
a dor eu curei com vodca
aquela garrafa pela metade
que ficou guardada
daquele dia dourado
que eu deixei terminar
desmoronou.
As fotos
foi nelas que me agarrei
mas o flash
escureceu o brilho que você deixou quando resvalou
na minha vida
e se foi,
como um cometa que vem
pra nunca mais voltar.
E com um estrondo
acabou-se o mundo.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Trimestre

Eu sonhei demais
minha voz se calava para eles
e eu sonhava com o dia do fim
os meus olhos perseguiam a esperança
ela fugia
como galinha do abatedouro
houveram os dias em que não pude mensurar
meu ser
e houveram tardes
em que não me enxergar
ouvia as vozes; escutava os sons
nada mais era o bastante
o vão que se embrenhava em meus pulmões
eu deixei ir
eu deixei que ficassem.
Eles se foram.

As vozes sempre me mostravam o céu
eu nunca soube ver.

Os caminhos que vagueei
as horas que desperdicei
tudo o que eu não gritei
as coisas não culminam
as ondas não sobem mais
o firmamento é cinza
os pássaros permanecem aqui
porque aqui é seguro
aqui, eles não podem nos derrubar
não podemos ser destronados aqui
o recôndito de nós todos
está em superlotação.
Entre tropeços e tropicos:
ela(s).

Eu não pude ver
não pude dizer que sim
não pude contar que era
não pude mostrar que estava
não pude
ela olhou para frente
e eu olhei para ela
o não-cruzar dos olhares
meus pés pediam por misericórdia
e meus olhos me imploraram choro
não há dor
há jugo
pude crescer
pude ver
pude sentir
o que são trezentos e sessenta e cinco dias
para quem já viu a tez ruir?
Eu caí
de quase todas as formas que poderia, caí
ela continuou olhando para frente
e começou a caminhar.

Admirei-a,
Odeio-o;
Deixam-me.

Não sei se eu posso dizer que acabou
porque não sei se é o fim
eu não sei de nada
quer dizer
é tudo tão por-um-triz
e o ano ainda nem acabou.

Os meses se arrastam e repuxam minha pele
eu me lembro de você
eu sei seus caracteres
eu estou bem sem você (?)
não sei do que se trata
o que é ser um amigo
diga-me você,
cara
lembre-se que eu não sei.

É lastimável ter a consciência
do derradeiro destino de nós todos
quando nem se sabe de que tem-se fome
de verdade
mas é como disse um dia a mulher
"o que eu desejo ainda não tem nome".

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Carochinha

Quando a rua acabou, eu não soube pra onde ir
Eu caminhei em círculos várias vezes
Respirando aquele quarteirão
Sentindo o ar que a tua voz deixou
Impregnado.
Quando o poste acendeu ao meio-dia, eu estava a caminho de casa
Embebedado, cansado, ludibriado
Minhas coxas ardiam e os pés urravam
As janelas da avenida nunca se abriam.
Quando eu dei meia-volta, o sol me derrubou
Eu olhei para cima, pensei em ficar ali e morrer
Os meus olhos já não tinham mais olhares
Os meus dedos palpitavam em busca do piano
As cores caminhavam em meus ouvidos.
Quando alcancei a esquina da rua de baixo, eu a encontrei
Ela estava no carro, e bebia. Ela sorria
E não viu a mim
Acenei, berrei, esperneei igual a um condenado
Ela estava entretida. E feliz.
Quando eu cheguei a casa, liguei a televisão
Assentei no banquinho de ferro
Peguei um livro dela
E comecei a ler, como se minha vida dependesse daquilo
E eu não tivesse nada mais a fazer a não ser ler aquelas páginas.
Quando eu acordei, três semanas depois, o livro estava ao meu lado
Ela estava de pé
Nunca saberei se alucinei ou se ela estava lá
E ouvi
O anel que tu me destes era vidro; se quebrou
O amor que tu me tinhas era pouco; se acabou.
Então ela se foi.

domingo, 19 de outubro de 2014

O que importa é o que te faz içar as velas

O derradeiro destino do universo
Em desencanto e desencontros
Vejo a vida permear meu encalço
De soslaio sou decifrado facilmente
Quando olhas-me nos olhos, nada vês.
Teu vestido de renda me derrubou e eu não pude levantar
Tentei me erguer com os olhos fixados em meus dedos
Encarei entorpecido os olhos teus
E estes desencanaram dos meus.
Eu berro com a canção,
mas de dentro do meu quarto, não escutas.
Eu caminho e me embolo pelo "g" do meu domingo enlatado/ralado
e tu continuas a sorrir, e se encaminha para novas venturas,
as reinações da Franjinha.
Eu me assento no banco do seiscentos e vinte e um
e no balanceio dessa voz boa, eu me deixo ir até as quadras antes de casa.
E pra ti eu olho antes de partir
Esperando que algo pudesses sentir
Ou que comigo pudesses vir.
Mas tu ficaste.
Y me fui por la noche
convencido a intentar mañana.

domingo, 28 de setembro de 2014

A Velha Nomenclatura de uma Anedonia

Tudo conspira contra.
Tudo se submete a um paradigma de acontecimentos
que levam ao momento corriqueiro e comum
em que eu sou o réu.
As víboras que rastejam,
me escoltam para onde eu fui designado a putrefazer
e lá existe uma sombra, eu a vejo daqui
em seu escuro enxergo as explosões que inferi
a mim e a eles.
Não há razão,
pois não a encontro há tantos verões que nem sei
disparo em retirada para o caminho de volta:
não há retorno.
Peleio com o que me sobrou de honra
mas nem esta é capaz de me sustentar
não aqui.
Não sei se é o inferno
ou se é o purgatório
céu não é
este vejo por cima dos meus cabelos.
Os calos dos meus dedos colecionam caos
e as minhas vísceras se dobram
tentando escapar da punição iminente.
Ferem-me os jornais, os sons, as palavras
as palavras as palavras as palavras
são para mim como um machado de guerra
e delas não sei me esquivar
mas não choro.
Pois não sei o que é a dor,
a dor nunca a mim apresentou-se
não a aguardo;
evito seu olhar.
Não conheço a sua lábia,
mas sei de sua lascívia e leviandade.
A todos subverte e a cada um de nós tortura.
Os meus olhos marejam
não sei como devo chorar
marejar é uma bela palavra
solto, pelos olhos, o mar
mar de meus medos, minhas ansiedades
oceano de todas as vontades.
Desconheço o fogo,
mas ele é o meu melhor amigo.
Seu efeito nunca experimentei,
deste tenho medo,
sofro com pavor.
Meu ar
meu lar
incendiados hão de ser pela sua
desdém.
O cólera decidiu vingar logo em minha esperança
e dela não tenho notícias
mando cartas, telegramas e passo na porta de sua casa
lá vejo a morte, gozando de suas [minhas] delícias.
Eu olho para o que estou fazendo e paro.
A vida não possui sentido,
isso é um fato sabido
e eu o desconhecia.
Trafego por entre meus equívocos; neles me demoro
a vida não foi injusta; fora apenas verdadeira.
Eu a entendo.
Mas com ela não posso mais andar.
Os raios caem, as ondas crescem
a terra à minha volta estremece
os dias chegam ao fim!
E tropeço, então, no pedregulho.
Aqui, no chão, a sangrar,
eu enfim choro.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

La Lu(a)na

(I do believe in too much things too soon.)
Nas estrelinhas de tuas estrepolias, acometias-me
Entre os olhos e a franja, beijava-te
Caçavas os meus olhos e protelavas nossas falas
Um ato enlouquecido, pronto para existir, que berra
E implora.
Os sons duma pernoite no teu Subúrbio
Mancham e se propagam em direção às calendas
De Setembro, que me levaram como uma brisa
para a encosta onde descansas
E repousa tua cauda azul
E a tua pele morena
E os teus olhos
Perimetrados como um solo de guitarra.
Os vértices de um crepúsculo longo e reprisado.
A trama dos três dias e o medo da réplica
Os pratos estão limpos
E os copos cheios de Coca
E a comida está quente.
A mesa está posta
Eu estou à postos
Eu estou em prantos.
O meu andar filisteu me guia à Canaã
E de lá me aponta o meu amor,
Que anda pelas colinas verdes do amanhã,
Cobertas de tulipas e ébano e pampas,
Ela é o Mar, a onda avassaladora
Que me olha nos olhos e sorri, que me deserda
Da Terra Prometida.
E então você é a Lua, agreste e pó
Empoeira-me com o flamejar da paixão
Dá-me, pois, a mão
Para que, no olho do do furacão, contigo eu possa seguir
O furacão que me derrubou
Mas que transformou minha baguncinha (de merda)
Numa bagunça ajeitada.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O Fim da Era

A minha vida escorre como o grafite desta ponta.
Esmaga-me todo. E dói.
Sinto pena de mim,
depois de fervido o sangue.
Uma provocação, duas explosões. E dói.
Tremem as minhas mãos
E os três dão às costas.
Violado, eu não resisto. Dói.
A premissa do verão amarelo caiu como noz no cascalho
Posso ser quem quiser ser
Apenas se eu look back in anger.
Tive/tenho/terei escolha (?)
A condução do Céu me tira dos trilhos (Porque dói).
Eu caí há algumas horas arrastadas.
A marca do sangue não sai; eu corro.
Informam-me da chegada da Lua.
Merda. Isso dói.

(Aqui é onde a ponta quebra.)

Bem

Bem,
Sigo em frente.
Eu sou a favor.
Um homem de bem.
Correto me define,
Mas a estrada é o meu lema.
A viagem me aquieta.
Sigo para o norte.
Eu sou pró.
Um homem de sim.
Prudente me rege,
Mas o horizonte é o meu lema.
A margem me interpreta.
Sigo em rente.
Eu sou em prol.
Um homem de escrúpulos.
Rédeas me definem,
Mas a calada é o meu lema.
A regra me acorrenta.
Cambaleio para onde quer que seja.
Eu sou o que for.
Um homem divergente.
Os andarilhos me definem,
E então a jogada da vez é o meu lema.
A verdade me guia.
Será que eu estou tão bem assim?
A porta range. Lá me aguarda a minha voz, rouca.
Faço o bem; vivo bem?

quinta-feira, 31 de julho de 2014

¡Calmamor, eu sou só-um-só!

Nem mesmo a areia,
Nem as conchas inertes
Nem mesmo mesmo o albatroz que verte
Ao vento da visão praieira

Espio entre as dunas
Um amor não conivente,
Sujo pé na areia afunda
Divagando ardor tão complacente.

Mesmo até o céu brilhante
que me vence
Ou o côncavo fugaz
Das costas da morena branca
cabofriense
Nem os olhos;
As pupilas que brilham no sol
Na mesma simetria da pele
envergada em óleo.

Ou até a risada do cabelo
a bronzear a derme branca de cal
E as pernas descomunais
a deslizar pelas praias de sal.
Dunas em seu seio
fulminante.
O andar sobre as conchas:
castigante.
Seu umbigo brilha no ferro
inoxidável.
Limpa o biquíni amável e
afável.

Meus olhos choram o
inevitável,
Aprumo respiro e o inspiro
Execrável.